domingo, 11 de março de 2012

Eu que não sei quase nada do mar...






“Eu que não sei quase nada do mar descobri que não sei nada de mim.
Clara noite rara nos levando além da arrebentação
Já não tenho medo de saber quem somos na escuridão”
                                                                  Ana Carolina







-         Sabia que a lua interfere na força das ondas?
-         Isso é sério mesmo?
-         É... principalmente uma lua como essa... Lua cheia, linda! Com o reflexo alaranjado do sol tão forte...


As ondas rebentavam nas pedras, seu ritmo aumentava conforme a lua subia, conforme o tempo teimava em passar. De olhos fechados o barulho me lembrava ao de uma cachoeira, ou de uma chuva forte, ou de um rio bravo... Tenho uma forte relação com a água, apesar de ser de um signo de ar.


Poucas horas antes se alguém me dissesse que estaria ali, ahhh... daria uma profunda gargalhada, como se aquilo fosse uma tentativa de me zombar... Mas, lá estava eu, depois de tanto planejar uma conversa sincera, de decidir pelo caminho mais seguro, pela sanidade, lá estava eu, entregue... Aproveitando o prazer do “não saber”.


Lembranças do passado embalaram o momento, mas surgiram naturalmente, porque ali não havia o medo de se mostrar, de se expor. A escuridão, a natureza, a fuga, me permitiam aceitar que não sabia nada de mim, que minhas verdades e certezas eram menores do que eu realmente julgava.


O mar levava consigo a razão...  E me deixava com minhas dúvidas escuras, interiores, me deixava com a vontade de viver aquilo, de mergulhar, de me entregar ao misto de experiências que me exploravam, me compunham, me recompunham. Já faziam parte de mim.


E as ondas? Queria senti-las quebrando violentamente em meu corpo, como um ritual de purificação, de aceitação de nosso lado escuro, que afinal não é tão escuro assim, é apenas diferente daquilo que estamos acostumados a ser.

    Quem somos na escuridão? Ainda não sei, mas já não tenho medo... 



De quando não cobri os braços...


Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.
Você certamente conhecerá coisas melhores
e coisas piores do que as já
conhecidas, mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança,
o movimento, o dinamismo, a energia.
Só o que está morto não muda !

Edson Marques






Ao grupo da oficina de leitura e escrita do CSD...

Era para me sentir liberta, mas que agonia me dava...
Todos me olham, me analisam, comentam o excesso, as marcas, os rastros de minha constante luta com aquele que melhor me percebe.
O calor não me incomodava mais como em outros dias, as pessoas continuavam a elogiar minhas escolhas e composições... Mas, que incomodo... Que sensação de exposição!
Sentia-me nua, como se todos pudessem notar que aquela não era eu... Ou era?
Será que não era eu?
Aos poucos fui me sentindo bem... Passei a incorporar a idéia de liberdade... E quando fui tentar mais uma vez me camuflar, já não tinha mais a mesma segurança, a mesma função.
O calor incomodava, as escolhas e composições pareciam ruins, desnecessárias...
E o incomodo agora faz parte do antes e do depois...

E de quantas sensações não estaríamos nos privando se não fosse pela simples tentativa de mudar...