quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Terrores noturnos


A noite – enorme, tudo dorme
Menos teu nome

Leminski



Algo no meu peito me sufoca
Me oprime, me impede de respirar
O pranto rompe em minha garganta
Mas os olhos já estão cansados do desfecho

Algo no meu peito me sufoca
Imagens passam incessantemente
meu olhar não sendo meu, meu toque não sendo meu
a ausência daquilo que nunca ficou

Algo no meu peito me sufoca
A dor de não saber como seguir
De entender que a razão é o melhor caminho
Mas ter desaprendido a ouvi-la

Algo no meu peito me sufoca
A perda do meu braço, do meu canto
Sentir-me sozinha, errante
Não mais partilhar, apenas eu

Algo no meu peito me sufoca
A certeza de que teríamos sido grandes
Que olhamos mais a fundo do que outros
E polos opostos, nos completamos.


Algo no meu peito me sufoca - Apenas...

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Então é natal...



Ver meu sobrinho ansiando pela meia-noite é lembrar de como eu ficava quando criança. Acordava esperando que tudo no dia 24 fosse especial. Nada poderia ser como nos outros dias, porque era véspera de natal, a vida tinha que ser mágica pelo menos em um dia no ano.
Muitos foram os natais significativos, aquele em que ganhei a minha primeira bicicleta, ou quando jurei ter visto o papai noel cruzando o céu perto de casa ou, na pré-adolescência, quando pude ficar a primeira vez na rua até as 6 da manhã. O natal era muito esperado, muito amado.
Minha família gosta de natal. Meu pai faz presépio, minha mãe monta a árvore de natal e me obriga a fazer compras com ela na véspera, encarando filas e filas, por amor a ela. Minha família se reúne e agradece pelo que foi e pelo que vai ser.
Hoje, aos 28 anos, um pouco desencantada da vida, das pessoas e da poesia na existência, talvez tenha perdido a magia que o natal me cercava quando criança. Pensava antes que a magia havia ido embora porque era difícil mantê-la diante da compreensão do funcionamento e da funcionalidade das religiões, mas não acho que tenha sido isso, já que o que me atraia mesmo era o quanto o mundo poderia ser mais bonito nesse dia, independentemente do porquê.
Hoje, faltando quatro horas para a virada do natal, ainda estou em casa jogada no sofá vendo seriado, reproduzindo o cotidiano, transformando essa data em algo banal, menos especial, nada mágico, mas como uma fagulha de esperança de um momento pleno, espero a tradicional oração à meia-noite, onde agradecemos pelo que veio e expurgamos o que foi.

Anseio por agradecer pelo que veio e expurgar o que foi e, quem sabe, um dia, a magia seja restabelecida.  

domingo, 21 de dezembro de 2014

Porque as pedras doem no pé e na alma...



Caminhava sozinha. Pessoas ao redor preenchiam a paisagem, massa cinza e homogênea. Continuava a caminhar, precisava chegar a seu destino.
Os passos, às vezes mais largos, às vezes mais curtos, seguiam num ritmo adaptado ao seu cansaço. Ela já havia caminhado muito e se nos momentos em que partilhava a caminhada com alguém a trajetória parecia mais leve, quando partiam os passos duplicavam de peso, de ranço, se arrastavam.

Caminhar não era uma escolha, era um movimento natural. Todos caminhavam, a massa cinza e homogênea caminhava também, mas pareciam não se importar muito com seus passos, andavam em pequenos grupos, em duplas, normalmente olhavam pra cima, não percebiam o caminhar. Ela, por sua vez, contava os passos. Passos doloridos, machucados... Caminhar sozinha era difícil, mas era melhor assim.

Sobre a primavera (set. 2014)

Chega a primavera. Depois de um doce verão, um conturbado outono e um tenebroso inverno, chega a primavera.
Como Lóri, não quero a efemeridade das flores que nascem e murcham em poucos dias, mas quero a inevitável morte diária para de novo ressurgir.
Que o fim do inverno traga o novo, nessa metrópole insana, como foi para Martin e Mariana, Wally's que se encontraram apesar dos muitos que vagam e preenchem os vazios das ruas.
Que o sol, as flores, a vida, sejam vida nova, novo reinventar.
Seja bem-vinda... Esperei-lhe ansiosamente.

O que aprendi nos últimos 365 dias - 2014

Reaprendi a ter prazer no silêncio, a desfrutar do meu espaço, do meu canto, do meu casulo;
Aprendi que ainda posso amar (no sentido mais doce da palavra) e que a intensidade de um amor não se mede em dias, mas nas experiências, no decifrar do outro;
Aprendi que as pessoas partem, as vezes porque escolheram assim, as vezes porque a vida escolheu, mas quando partem deixam marcas, impossíveis de se apagar, que já te formavam e você nem havia percebido;
Aprendi que quando a vida dói sentimos a dor do agora intensificada pelas dores do ontem e que muitas vezes ela parece insuportável;
Aprendi que eu suporto;
Aprendi que quando não estamos bem deixamos de ser agradáveis para muitos, mas que sempre há aqueles que não se importam e permanecem;
Aprendi a perceber o momento de abrir mão, fechar ciclo, aceitar que o papel foi cumprido e que prolongar o fim só causa dor e desgaste;
Aprendi a olhar o medo de frente e aceitar as minhas limitações, e resgatei aquilo que havia de mais bonito na menina da primeira metade dos 20;
Aprendi que sobrevivo, permaneço e me refaço, uma e outra e outra e outra vez;
Agora é esperar o retorno de Saturno...

O que aprendi nos últimos 365 dias - 2013

- Eu sobrevivo, me reinvento;
- Fico triste, mas já sei não me entregar à tristeza;
- Sei ficar sozinha, mas não gosto;
- Consigo dizer não, mas prefiro ouvi-lo do que dizê-lo;
- As pessoas tem ciclos em nossas vidas. Devemos desfrutar da companhia delas, mas sabendo que em algum momento elas terão que partir;
- O fato das pessoas partirem não diminui a mudança que elas causaram em mim;
- O passado é muito mais bonito visto de longe, mas de perto já não me serve mais;
- Preciso lembrar diariamente do item anterior, isso me ajuda a seguir;
- Já não espero tanto das pessoas, mas ainda crio expectativas;
- Cultivar relações amorosas é algo que exige do indivíduo mais do que hoje eu consigo dar;
- Amanhã posso mudar de ideia;
- Já não me submeto mais a muitas coisas que outrora aceitei para evitar conflitos;
- Não evito mais conflitos;
- Sou mais sensível e mais forte do que imaginava;
- Dormir é importante para descansar do mundo e de mim;
- Preciso de planos, metas, causas... Eles me ajudam a seguir;
- A luta vale a pena...

"Vamos celebrar essa nova maneira de ser, essa luz que acabou de nascer, quando aquela de trás apagou"