Pero no pudo sentir auténtica melancolía, porque toda la melancolía se la había llevado el Otro Yo. - Mario Benedetti |
Para o 9o ano do Colégio São Domingos
- Acorda, acorda...
- Outra vez você
- Ainda não resolvemos as nossas diferenças...
- E nunca vamos resolvê-las
- Como assim nunca, devemos sempre buscar nosso equilíbrio, agradar a todos, ser querida por todos.
- Ridículo... Ninguém consegue isso. Sério mesmo que você tem isso como objetivo de vida?
- E por que não? A harmonia, a relação fraterna com o outro, a...
- A vida morna, a fuga dos conflitos, a necessidade de sentir-se aprovada pelos outros, de atender às expectativas alheias.
- Como você é exagerada! Não é isso, é apenas pensar no outro, cuidar dos sentimentos e não deixar que ninguém a sua volta se magoe, se machuque...
- Mas, e eu? E o que eu sinto? E quem vai cuidar dos meus sentimentos, das minhas emoções?
- Mas quando se tem uma vida morna as emoções individuais também passam a ser mínimas. Quase não terá tempo para elas, cuidar do mundo demanda tempo...
- Não leve a mal, não é que eu não pense no outro, ou não queira cuidar do mundo, mas será que eu posso escolher simplesmente senti-lo? Fazer parte dele? Intensamente?
- Mas aí surge o risco de se machucar, e se machucando você perde a força, e surge o risco de se descontrolar, de não conseguir lidar com as incertezas do mundo...
- E sofrerei
- Sofrerá
- E chorarei
- Chorará
- E doerá
- Absurdamente
- E não terei tido uma vida morna, não terei passado, terei experimentado as dores e as delícias do mundo...
- Mas a que preço...
- É... o preço... a angústia... a incerteza...
- A solidão
- A possível solidão... Mas essa pode acontecer estando ou não acompanhada.
- ...
- Ande, volte para a cama, deite-se, volte a dormir que por enquanto sou eu quem se mostra, você já esteve em evidência tempo demais...
- É, até você cansar de se machucar
- Não, meu bem, até eu cansar de viver!